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BLOG - Papo Sustententável

O superficial como símbolo de um mundo em crise

Obra: "O Sono" de Salvador Dali
Obra: "O Sono" de Salvador Dali

Talvez você já tenha ouvido a frase "A crise do mundo é, sobretudo, estética" em discussões filosóficas, políticas ou culturais. A autoria exata da expressão não é clara, mas sua profundidade é inegável. Ela parece capturar um mal-estar contemporâneo, onde o superficial frequentemente toma o lugar do essencial, seja no discurso público, nas interações sociais ou mesmo nas grandes obras que moldam nossa realidade.


A frase "A crise do mundo é, sobretudo, estética" pode ser interpretada como um diagnóstico profundo da forma como percebemos e interagimos com a realidade. A estética, aqui, não se refere apenas ao senso de beleza ou arte, mas à maneira como as coisas são apresentadas, organizadas e experienciadas no mundo.


Na sociedade contemporânea, a estética muitas vezes domina a ética. É um mundo onde a aparência vale mais do que a essência. Redes sociais criaram uma cultura visual em que o valor das coisas é medido por sua "instagramabilidade". Políticos e líderes moldam discursos mais pela aparência de autoridade do que pelo compromisso com a verdade. O impacto visual de uma ação ambiental "verde" pode importar mais do que sua eficácia real. Até mesmo as grandes estruturas que erguemos refletem essa tensão, onde a forma nem sempre acompanha a função.


Essa crise estética também pode ser um reflexo de um esvaziamento de significados mais profundos. A busca incessante por curadoria visual, status e consumo muitas vezes esconde questões fundamentais, como: justiça social, ética ambiental, ou mesmo a construção de um sentido de comunidade. Estamos resolvendo problemas complexos com soluções rasas e visuais, pois é o que "parece" funcionar. E, assim, edificamos o transitório, deixando de lado o essencial.


Assim como a figura onírica de Dalí precisa de apoios para se manter de pé, nossa sociedade contemporânea depende de artifícios visuais e narrativas cuidadosamente moldadas para sustentar uma ilusão de ordem e significado. O "sono" de Dalí representa um estado de inconsciência, onde o essencial é esquecido e o transitório se torna a norma—exatamente como o texto sugere ao criticar a superficialidade das soluções e das interações modernas.


Se, em "O Sono", a figura pode ruir sem suas muletas, a sociedade também se encontra em uma encruzilhada: continuará apoiada em aparências frágeis ou despertará para uma estética do essencial, onde substância e verdade prevaleçam sobre a mera performance visual? A obra e o texto dialogam nessa inquietação: ambos sugerem que há algo de profundamente instável na maneira como nos sustentamos—seja no sonho, seja na realidade.


Por outro lado, essa crise nos oferece um espelho. Se percebemos que o problema é estético, talvez seja porque intuímos que o mundo precisa ser reimaginado. Isso não significa apenas repensar como ele é "visto", mas como ele é "erguido" e vivido. Essa mudança pode passar por uma estética do essencial: menos brilho superficial, mais substância; menos performance, mais presença.


Talvez a crise estética seja um convite para repensarmos o que valorizamos, como construímos narrativas e como conectamos o que é bonito com o que é verdadeiramente útil e durável.


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