Já falamos sobre o comportamento do sistema climático, mudanças de temperatura, mudanças na precipitação, mas, além de um discurso científico, o que as pessoas sempre questionam é:
O que isso vai causar?
Qual será o impacto disso?
O que vai acontecer comigo?
Não vou falar que vou antecipar o que o aquecimento global trará de consequências, porque elas já estão presentes, apesar de uma grande parte da população ainda estar desacreditada do fenômeno.
De forma geral, precisamos examinar a exposição e os riscos associados às mudanças climáticas. Felizmente, a avaliação de risco é um campo muito bem estabelecido e amplamente utilizado em vários setores, como por exemplo no de seguros, na saúde pública, na redução do risco de desastres, etc. Então, podemos recorrer a um corpo de ciência muito bem estabelecido e praticá-lo e aplicá-lo às mudanças climáticas para ver o que sabemos sobre o risco climático.
O clima, com ou sem mudança climática, já tem muitos tipos diferentes de impactos.
Afeta onde as espécies podem viver, afeta que tipo de atividades socioeconômicas pode ser realizadas em determinados lugares e, quando temos eventos extremos, pode causar uma grande variedade de danos e prejuízos.
Falando do ponto de vista mais científico, podemos descompactar as causas destes impactos em três classes:
Os eventos, o clima neste caso;
A exposição a esses eventos de ativos sociais ou qualquer outra coisa que nos interessa;
As vulnerabilidades desses ativos aos eventos aos quais estão expostos.
Vou tentar um exemplo.
Digamos que, por descuido, deixemos cair um copo com água na nossa mesa de trabalho.
Temos na mesa: um computador, papeis com anotações, canetas e alguns outros itens de decoração.
Sabemos que os impactos desse evento nesses diversos materiais serão diferentes, porém todos foram igualmente expostos à água que derramou do copo.
E quais serão as consequências?
Talvez o computador, item mais caro, tenha estragado.
Provavelmente poderemos secar as canetas e elas estarão perfeitamente boas.
Os papeis talvez serão danificados, mas dificilmente serão destruídos.
Esse exemplo demonstra que os resultados experimentados não são uma função da água derramada sobre a mesa, mas uma função das características de vulnerabilidade dos materiais expostos.
Toda a teoria geral de riscos e impactos pode ser aplicado para diferentes locais, setores, eventos, etc. Pode ser aplicado a edifícios, pode ser aplicado a setores econômicos, pode ser aplicado a pessoas, etc. Pode ser aplicado à mudanças climáticas.
Então, que tipos de impactos podemos esperar?
Nas áreas urbanas, você tem grandes concentrações de ativos, portanto, há um grande potencial de exposição. Atualmente, o maior fator de risco não são as mudanças no clima, é o aumento da exposição por causa da crescente urbanização, crescimento econômico, crescimento populacional, etc. Isso agravado pela falta de planejamento, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.
É um dos pontos que enfatizamos quando falamos que as tragédias tem, na maioria das vezes uma causa social.
Hoje, por exemplo, um evento climático extremo nos deixa muito mais exposto à grandes perdas do que a 100 anos atrás, considerando que os ativos estavam mais bem distribuídos.
Com o tempo, no entanto, o sistema climático começará a se tornar cada vez maior fonte de risco. Ou seja, termos um agravante. Algumas das coisas que são muito certas de acontecer com o aumento da temperatura incluem aumento do nível do mar, por exemplo. À medida que os oceanos aquecem, à medida que o gelo derrete, o nível do mar aumentará e inundará as áreas costeiras mais baixas.
Algumas coisas podem parecer distantes de nós, mas na natureza tudo está interligado.
O oceano está se acidificando devido à absorção de dióxido de carbono. Esta acidificação afeta os recifes de coral, que afeta as biodiversidade marinha, que causa efeitos indiretos na pesca e esses efeitos se traduzem em riscos de segurança alimentar, em alguns casos.
Aumentos de temperatura podem afetar a agricultura e têm impactos diretos na forma de ondas de calor na saúde humana.
Com o aquecimento, novos vírus e bactérias poderão se desenvolver e causar novas doenças capazes de destruir a raça humana.
O gradiente de temperatura entre o equador e os pólos estão diminuindo porque a temperatura nos pólos está aumentando mais rápido que a temperatura no equador. Isso vai redistribuir os climas regionais globais.
Enfim, as consequências das mudanças climáticas são imensuráveis. Mesmo com milhares de estimativas, não há ainda uma correlação clara de todos os impactos a partir do aumento da temperatura média da Terra, podendo chegar à condição de devastação generalizada da população humana.
Somos todos responsáveis para reverter essa situação, mas para isso, é preciso que, urgentemente, sejam costurados acordos não tão poéticos e mais práticos para inversão dessa tendência.
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